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Foto Instituto Smithsonian |
Adquirido na Índia no século XVII pelo
negociante de gemas francês Jean-Baptiste Tavernier, o diamante de profunda cor
azul-acinzentada pesava 112 quilates e foi, muito provavelmente, extraído da
mina indiana Kollur, Golconda. Uma lenda surgida no mesmo século, contava
que sobre o diamante pesava uma maldição, já que o mesmo teria sido roubado de
um ídolo hindu e que quem o possuísse teria um destino terrível.
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Marquesa de Monstespan |
O
diamante foi levado por Tavernier para Paris, onde foi lapidado em formato de
pera triangular, o que enfatizou o seu tamanho, mas não o seu brilho. Pouco
depois, foi vendido ao rei Luís XIV para ser presenteado a sua amante de então,
a Marquesa de Montespan que, um tempo depois, caiu em desgraça por ter seu nome
envolvido juntamente com outros nobres
da Corte francesa, num enorme escândalo ocorrido em Paris
entre 1670-1682, conhecido como o Caso dos Venenos. Com o afastamento total a
que submeteu a amante, já que por sua posição não poderia ser executada e nem
presa como muitos o foram, Luís XIV ordenou que o diamante passasse a
fazer parte das joias da Coroa da França. Em 1673, Luís XIV decidiu mandar
relapidar o diamante para aumentar seu brilho. A gema passou a pesar então 67,125 quilates e o rei nomeou-a, oficialmente, “Diamante Azul da Coroa” e
frequentemente o usava pendurado ao pescoço, preso por uma longa fita. Tavernier, tornado nobre pelo rei francês, morreu na Rússia, aos
84 anos, de causas desconhecidas ( diz a lenda que foi devorado por cães
selvagens..).
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Luís XIV |
Luís
XIV, o Rei Sol, morreu de gangrena poucos dias antes de completar 77 anos,
tendo assistido a todos os seus filhos e netos legítimos morrerem antes dele.
Quem assumiu o trono francês após sua morte foi seu bisneto duque d’Anjou, como
Luís XV. Este mandou o joalheiro real colocar o diamante na joia conhecida como
Ordem do Tosão de Ouro, junto a um espinélio (acreditava-se então ser um rubi)
conhecido como “Cote de Bretagne”. Luís XV teve um reinado longo, mas fracassou
em solucionar os graves problemas financeiros surgidos em fins do seu reinado,
deixando para seu neto e sucessor, Luís XVI, um
governo insolvente.
Durante a Revolução Francesa, as Joias da Coroa da França, incluindo o
diamante, foram tiradas do casal real depois da tentativa de fuga fracassada da
França, conhecida como Noite de Varennes, em 1791. As joias foram colocadas no
prédio conhecido então como Garde-Meuble (atual sede do Ministério da Marinha
francesa), mas no mês de setembro do mesmo ano o prédio foi roubado durante
quatro dias seguidos. Uma parte das joias foi recuperada, mas dentre as que
não foram estava o belíssimo diamante azul. Luís XVI e sua rainha Maria Antonieta, que usou
o diamante em várias montagens de joias, incluindo-o até em seus elaborados e
famosos penteados, morreram na guilhotina. Deixaram um filho pequeno como
herdeiro do trono francês que morreu com sete anos, provavelmente devido à fome
e maus tratos.
Desaparecido durante anos, o diamante ressurgiu em 1813, agora pesando
44,50 quilates e com uma lapidação diferente, no mercado inglês e em 1823 seu proprietário
era um joalheiro de nome Daniel Eliason. Há evidências de que o rei inglês
George IV o comprou do joalheiro e, após sua morte o diamante foi vendido para
ajudar a pagar os débitos do monarca.
Em
1839, o diamante foi comprado pelo banqueiro britânico Henry Thomas Hope que comissionou
a Maison Cartier para criar uma joia para ele. O diamante azul passou, então, a
ser conhecido pelo sobrenome do banqueiro, nome que carrega até os dias de
hoje. Mais tarde, a gema foi herdada
pelo seu descendente Lord Francis Clinton, que foi à falência.
Então, e mais uma vez, a gema trocou de mãos. Seu proprietário seguinte
foi o imperador otomano Abdul Hamid II. O diamante foi dado a uma de suas
quatro esposas oficiais, Subaya, mais tarde executada por suspeita de
conspiração contra o marido. O imperador perdeu o trono e também o diamante,
que tinha sido secretamente enviado à Paris para ser vendido a Pierre Cartier.
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Evalyn Walsh McLean |
Em 1912,
o diamante azul foi comprado da Maison Cartier por 180.000 dólares - uma alta soma
à época- por Evalyn Walsh McLean, que já conhecia o diamante ao visitar
anteriormente a corte otomana. A milionária herdeira americana o mandou
remontar pela mesma joalheria francesa, primeiramente em uma tiara com outros
16 diamantes brancos. O diamante passou a pesar, então 45,52
quilates. Mais tarde a tiara tornou-se um pendente, também desenhado
pela Cartier, que aproveitou os diamantes brancos na montagem da joia, feita em
platina.
Em
1949, dois anos após a morte da senhora McLean a gema, que fazia parte da
chamada Coleção McLean compondo um colar com juntamente com 62 diamantes
brancos foi comprada pelo joalheiro Harry Winston e doada ao governo dos EUA
pelo joalheiro em 1958. O diamante Hope deixou o Instituto Smithsonian somente
por quatro vezes, desde que foi doado: Em 1962 participou de uma exibição no
Museu do Louvre, em Paris, intitulada “Cem Séculos de Joalheria Francesa”; Em
1965 foi exibido em Johannesburg, África do Sul; Em 1984 o diamante foi
emprestado à joalheria Harry Winston para a celebração dos 50 anos da marca e
exibido no Museu Metropolitano de Arte de Nova York; em 1996 voltou novamente
às mãos da joalheria para limpeza e pequenos trabalhos de restauração no set da
gema.
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Foto Associated Press |
Em
2009, para celebrar o 50º aniversário do diamante no Instituto Smithsonian, a
joalheria Harry Winston desenhou (na verdade foram três designs, dos quais foi
escolhido o que mais se adequava aos propósitos da celebração) um novo set para
o colar, chamado “Embracing Hope” (tradução literal= abraçando o Hope,
palavra que quer dizer esperança em inglês, tendo sido usado um jogo de
palavras, já que por 10 anos o Hope, ainda de posse da joalheria Harry Winston,
foi exibido ao redor do mundo com os fundos arrecadados revertidos à projetos
de caridade). O diamante ficou no novo set em até 2011, quando retornou ao set
em que foi doado. O diamante é exibido
permanentemente no Instituto Smithsonian-Museu Nacional de História Natural, em
Washington, EUA, onde permanece, em giro lento dentro da sua vitrine, sendo
observado e observando...