4 de jun. de 2008

O Tesouro de Hoxne

Foto British Museum


Descoberto em 1992, em Suffolk, Reino Unido, desde o início da sua descoberta teve arqueólogos envolvidos, o que permitiu a preservação de todos os achados, inclusive minúsculos fragmentos de folhas de prata. O tesouro consiste em objetos de ouro e prata, jóias e moedas que foram envoltos em pedaços de tecidos e enterrados dentro de uma arca de madeira, praticamente inexistente.

As 14.780 moedas (565 de ouro, 14.191 de prata e 24 de bronze), produto de dezoito cunhagens diferentes, apresentam as efígies de oito imperadores. As moedas de ouro, chamadas solidus, foram cunhadas no metal com 99% de pureza e datam entre os anos 394 e 405 DC, quando o imperador Honório (384-423 DC), filho do imperador bizantino Teodósio (346-395 DC), reinou no Império Romano do Ocidente enquanto seu irmão Arcádio (377-408 DC) reinava no Império Romano do Oriente. Nenhuma das moedas de ouro tinha mais de 15 anos de cunhagem quando foram enterradas, estando em excelentes condições.

As moedas de prata (pequenas e finas na espessura, conhecidas como siliquae, no plural, valiam 1/24 do solidus; na antiga Roma, o ouro valia 14 vezes a prata) foram cunhadas entre os anos 358 DC and 408 DC e representam as efígies de 15 diferentes imperadores. Pelo menos 80% das siliquae perderam parte da sua circunferência, um fenômeno aparentemente ocorrido somente nas ilhas Britânicas, o que pode evidenciar a quebra da autoridade romana nessa parte do império. Mesmo com a retirada do metal as efígies foram mantidas, o que significa que estavam em circulação antes de serem enterradas e o que o metal retirado foi reutilizado em outras cunhagens ou em forjas.

Além das moedas, o tesouro também contém outras duzentas peças, jóias em ouro e utensílios de uso diário como colheres. As 29 peças de joalheria são todas em ouro puro (e contendo mais de 22 quilates) e incluem anéis, braceletes e colares, sendo uma das jóias mais bonitas um colar peitoral em forma de X, e em cujas intersecções (peito e costas) estão colocados broches decorativos, um feito com uma moeda de ouro contendo a efígie do imperador Flavio Graciano (359-383 DC) e o outro contendo uma ametista central, rodeada por oito gemas, sendo quatro granadas e, nos outros quatro lugares vazios, acredita-se que existiam pérolas. Este tipo de peça de joalheria, bastante antigo na história da joalheria, é um achado raro em sítios arqueológicos, todavia. Bem pequeno nas suas dimensões, só pode ter sido usado por uma jovem e magra mulher, provavelmente em seus primeiros anos de adolescência.

Fazendo parte dos dezenove braceletes encontrados estão dois conjuntos com quatro braceletes idênticos cada, um par de braceletes idênticos e outro bracelete, mais largo, para ser usado no antebraço. Alguns foram decorados com figuras de animais e de caçadores em baixo relevo, enquanto outros foram decorados com open-work em padrões geométricos ou imitando as tramas de uma cesta de vime. O bracelete mais interessante é o exemplar dedicado a sua dona, contendo a inscrição em latim Utere Felix Domina Juliana (Utilize Com Felicidade, Senhora Juliana). Este tipo de desejo de boa-sorte era comum na joalheria romana do último período imperial.

As peças em prata incluem setenta e oito colheres, além de vinte conchas para líquidos e outros pequenos objetos, incluindo a pequena escultura de um tigre, que possivelmente era a alça de um dos lados de uma ânfora de vinho, já que o tigre e outros animais felinos eram associados ao deus Baco. Algumas das colheres possuem inscrito o nome do seu proprietário, Aurelius Ursicinus. Envoltas em pedaços de tecido, junto com as colheres e as conchas, estavam quarto pimenteiras, uma das quais em forma de busto feminino e com um disco interno que permitia a pulverização dos grãos de pimenta.

O Tesouro de Hoxne faz parte do acervo do Museu Britânico de Londres, desde a sua descoberta.

27 de mai. de 2008

Jóias na Antiga China

Pendentes em Jade
Foto British Museum


As antigas jóias chinesas possuíam uma grande variedade de formas e a maneira como homens e mulheres as utilizavam se relacionava diretamente com as intrincadas convenções de etiqueta social e o senso estético da sociedade chinesa durante os períodos que compreendem as dinastias Xia (2003 – 1562 AC) e Ming (1368- 1644 BC). As jóias eram usadas para ornamentar cabeça, orelhas, pescoço, peito, mãos, pés e até templos e podiam ser feitas em ouro, prata, ferro e bronze. As gemas preferidas eram o jade e a turquesa.

Na antiga sociedade imperial chinesa, os penteados e ornamentos de cabeça determinavam o status social de que os portava. A simetria era de vital importância para um perfeito adorno capilar - que combinava o penteado com as jóias escolhidas - e era até mais considerado do que o próprio valor das jóias em si. Em geral, o design das peças refletia a arquitetura da época, que utilizava a repetição de elementos ou grupos de elementos para conseguir pureza estética e equilíbrio. Assim, não somente as jóias e o penteado confirmavam o status social, mas também contribuíam de forma inequívoca para que a pessoa se tornasse visualmente um perfeito sistema estético.

As jóias mais populares do período imperial chinês foram os brincos. Estes tinham formas e estilos extremamente variados, sendo a arquitetura a principal fonte de inspiração, mais até do que a natureza.

Os ornamentos de pescoço incluíam colares, torcs (colares geralmente rígidos e usados próximos ao pescoço por proteção, compostos quase sempre por fios de ouro retorcidos; representavam riqueza, poder e coragem e também eram usados pelos homens em batalhas para demonstrar grau de comando; em geral tinham as suas extremidades decoradas com figuras zoomórficas (o dragão e o leão eram os prediletos) e peitorais. Algumas dessas jóias tinham somente uma função ornamental, enquanto que outras possuíam funções mágicas ou utilitárias.

Os peitorais eram outro tipo de adorno para pescoço e nas dinastias mais antigas eram compostos de correntes com um camafeu no centro. Mais tarde tomaram a forma de um disco chato, possivelmente inspirados em moedas, já que peitorais mais recentes, em forma de disco, possuem moedas na sua composição. Eram usados por membros da classe mais alta e em estátuas ou pinturas que representavam deuses.

Os braceletes também eram adornos populares e eram confeccionados geralmente em formas triangulares e circulares. Podiam ser maciços ou ocos e às vezes possuíam extremidades zoomórficas e eram usados por homens e mulheres igualmente, podendo ser em pares ou uma só peça. Existiam também os braceletes para tornozelos e seu design mais popular continha as duas extremidades da cobra, símbolo da força vital para os chineses.

Os anéis serviam para adornar ou cumprir funções, como atuar como selo, e eram confeccionados em secção triangular, circular, oval ou chata. As imagens representadas podiam ser zoomórficas ou antropomórficas, sendo as zoomórficas as preferidas. Também era muito comum o anel em forma de cone que vestia o dedo inteiro e possuía uma ponta bem afiada. Na classe mais alta era usado em todos os dedos das mãos.

20 de mai. de 2008

Técnicas Decorativas Dos Antigos Romanos


Retrato de Augusto em camafeu
Foto British Museum


A joalheria clássica romana era naturalista e figurativa, ora confeccionada em linhas planas e simples, ora em elaborados motivos florais. Em geral, os artesãos e ourives romanos não eram tão sofisticados ou ambiciosos quanto seus colegas gregos: a jóia romana era mais realista, naturalista e figurativa, ora confeccionada em linhas planas e simples, ora em elaborados motivos florais. Ainda assim, evidências de jóias requintadas sobreviveram.

O design romano utilizava as técnicas da granulação e da filigrana, mas o uso de esmaltes não era tão comum. Raramente existia somente um elemento de estilo na decoração de uma jóia: por exemplo, as superfícies em forma de domos (características das jóias etruscas) encontradas em brincos e braceletes conviviam perfeitamente com influências helênicas como a técnica da policromia (consistia em folhear uma superfície de madeira com folhas de ouro, às quais eram depois aplicados esmaltes).

Por volta de 200 DC aparece o opus interrasile, técnica de perfurar sólidas folhas de metal para criar um trabalho decorativo e que mudou a face das jóias do Período Imperial. O intaglio (técnica que consistia em entalhar a gema de maneira a formar um desenho em baixo-relevo) era muito utilizado na decoração de gemas e estas em geral eram lapidadas em cabochon (lapidação que deixa a superfície da gema lisa e em forma de domo). O niello (técnica decorativa em que uma composição de sulfetos metálicos negros cria um contraste entre o ouro e a prata) também era muito usado para decorar jóias.

Uma influência do comércio existente durante o período da Roma Imperial foi a predileção por jóias onde várias gemas coloridas decoravam uma mesma peça – os romanos amavam o rubi, a ágata, a granada, o lápis-lazúli, os corais rosa e vermelho encontrados no mar Mediterrâneo e o âmbar, encontrado nas águas frias dos mares do Norte e Báltico. O camafeu era adorado e as pérolas podiam ser usadas em tiaras usadas para adornar os altos penteados das ricas matronas romanas.

A joalheria romana sofreu uma vasta influência, não só dos etruscos, dos gregos e dos povos pertencentes à cultura helênica, mas também das culturas micênica, minóica e egípcia.