Cellini nasceu em 03 de novembro de 1500 em Florença, e desde cedo decidiu tornar-se um ourives. Aos 14 anos, começou a estudar no atelier do pintor Filippino Lippi, onde aprendeu a principal regra da Escola Florentina renascentista: o design tinha que ser a base de toda obra de arte. Devia servir para planejar o trabalho em todos os mínimos detalhes antes da execução da obra, desde os elementos decorativos até as soluções técnicas. Ele admirava acima de tudo os trabalhos de Miguelangelo e Leonardo da Vinci, e dizia que se estes fossem colocados juntos, lado a lado, representariam o que de melhor se poderia fazer em arte no mundo. Cellini almejava a excelência artística. Para usar um conceito da sua época, deseja tornar – se “universal".
Aos 19 anos, Cellini mudou-se para Roma. Foram anos de grande produtividade: medalhões em ouro talhado com cenas da mitologia grega, um botão para o manto do Papa Clemente VII, e belíssimas moedas e jóias para a corte papal e também para vários nobres romanos. Depois de um curto período em Florença, devido a desentendimentos com o Papa, retornou a Roma, onde continuou a atender uma rica clientela e acumular considerável fortuna pessoal. Com a morte do Papa Clemente VII, o novo Papa Paulo III encomendou à Cellini uma capa em ouro trabalhado e pedras preciosas para o Livro de Orações, presente papal ao Imperador Carlos V. Apesar das encomendas na corte papal, Cellini desentendeu- se em Roma novamente. Viajou para Paris, onde tentou, em vão, entrar para o serviço do rei Francisco I, conhecido por ser um grande mecenas.
Depois do seu novo retorno a Roma, em outubro de 1538 foi preso no Castelo Sant’Ângelo sob a alegação, provavelmente falsa, de que tinha roubado gemas preciosas da tiara papal. Em 1539, Cellini é libertado da prisão através da intervenção do rei francês Francisco I, que lhe oferece os mesmos termos de trabalho que havia oferecido anteriormente a Leonardo Da Vinci.
À serviço de Francisco I, Cellini pôde finalmente realizar sua ambição: além de ourives, ser um mestre na arte da escultura. Mas apesar de trabalhar em excelentes condições para o rei francês, foi irresistível para Cellini retornar à sua cidade natal: queria ter chance de provar sua excelência como escultor e conquistar assim o direito de fazer parte dos mestres da arte escultórica, na tradição de Donatello e Miguelangelo. Da sua genialidade surgiram então várias esculturas, algumas monumentais, a maioria considerada obras-primas.
Escreveu em 1559 a sua autobiografia, intitulada “A Vida de Benvenuto Cellini" e, a partir de 1565, começou a escrever seus dois famosos tratados: “Tratado sobre Ourivesaria" e o “Tratado sobre a Arte da Escultura". Seus últimos anos em Florença foram amargos e solitários e, ao morrer em 1571, deixou todas as obras encontradas em seu estúdio para o filho do duque florentino Cosme I de Médicis, Francisco I.
Apesar de ter produzido muito como ourives durante toda a sua vida, um dos poucos trabalhos de Cellini que chegaram até os nossos dias foi o famoso "Saleiro" feito para Francisco I, atualmente no museu Kunsthistorische de Viena, Áustria. Cellini o descreve assim em sua autobiografia: “É oval na forma e tem por volta de duas terças partes do comprimento de um braço. Toda a peça foi trabalhada com um cinzel. Eu retratei Netuno e a Terra, sentados em lugares opostos e com as pernas entrelaçadas. As ondas da água foram belamente esmaltadas na sua cor natural. A Terra está representada pela figura de uma linda mulher que segura a cornucópia em sua mão. Ela está completamente nua, assim como Netuno. Eu fixei a peça em uma base de ébano, a qual decorei com quatro figuras douradas em alto relevo. Estas quatro figuras representam a Noite, o Dia, o Anoitecer e o Amanhecer”.
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