As palavras em latim Aurifex Brattiarius inscritas em uma placa avisavam aos passantes em frente à loja que um ourives ali trabalhava. Os ourives do antigo Império Romano vinham predominantemente do Oriente e preferiam trabalhar nas cidades principais do Império como Alexandria, Antioquia e na própria Roma. Uma das mais óbvias razões para a grande quantidade de ourives em Roma era a grande riqueza das famílias patrícias. Estas pequenas dinastias possuíam uma enorme quantidade de jóias, além de baixelas e objetos decorativos em ouro e prata.
Os ourives eram organizados em guildas, e seu trabalho chegava às mais distantes províncias romanas, sendo extremamente apreciado. Na Casa dos Vettii, em Pompéia, ainda podemos admirar um afresco decorativo mostrando dois cupidos entretidos na fabricação de jóias. As jóias também serviam para adornar estátuas: diademas, braceletes, colares e brincos decorados com pérolas, esmeraldas, cristais de esmeraldas eram as gemas mais utilizadas para aumentar a magnificência das estátuas romanas, que eram coloridas, bem diferentes das que apreciamos em museus, praças e palácios hoje em dia.
O ouro era o metal mais valorizado pelos antigos romanos. Como não era sujeito à corrosão nem se deteriorava, sendo então eterno e incorruptível, era o metal que mais refletia os ideais romanos. Durante a República, os anéis de ouro só podiam ser usados por uma determinada classe social ou ofertados em ocasiões especiais, como em honras militares, aos generais e oficiais vitoriosos. Com o fim do período republicano, o uso estendeu-se a todos os cidadãos romanos.
Os cidadãos romanos podiam amar jóias, mas a Lei Romana impedia os excessos. O primeiro código de lei romano, chamado de Lei das Doze Tábuas, determinava a quantidade de ouro que podia ser enterrada junto com um corpo. No século III AC, a Lex Oppia fixava em meia onça de ouro a quantidade que uma mulher poderia usar e isto, sem dúvida, modificou a maneira de vestir de muitas das matronas romanas. Evidências históricas, porém, nos mostram que foram achados meios de compensar os limites da lei.
O historiador Plínio, o Velho (23-79 DC), conhecido na História pela aguda observação da sociedade romana de seu tempo, nos conta que mulheres podiam usar três pérolas de grande tamanho em cada orelha e que a Imperatriz Lollia Paulina, terceira esposa do imperador Calígula (12-41DC), utilizava uma quantidade excessiva de jóias até mesmo em ocasiões onde a austeridade era necessária, como nos funerais: “Eu vi Lollia Paulina (então esposa do imperador Calígula), apesar de não ser uma grande ocasião nem estar ela vestindo seu traje cerimonial, mas sim convidada de um jantar de comemoração de casamento. Eu a vi, inteiramente coberta por esmeraldas e pérolas brilhando sobre sua cabeça, cabelos, fita decorativa, colares e dedos, o valor de tudo somando-se 40 milhões de sestércios, um valor que ela estava pronta a provar com recibos. Não eram essas jóias, presentes de um pródigo imperador, mas sim herança de família, necessário dizer produto de pilhagem das províncias. Este era o objetivo de seus peculatos- este a razão pelo qual Lollius fez-se infame em todo o Oriente, recebendo suborno de príncipes até finalmente suicidar-se com veneno, quando Caio César, o filho adotado de Augusto, formalmente renunciou a sua amizade. Ao final da cerimônia de casamento, este seu avô a exibiu sob a luz de lamparinas, ornada pelo valor de quarenta milhões de sestércios.” (tradução livre da autora sobre trecho da obra ‘História Natural: Uma Coletânea’ de Plínio, o Velho).
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