1 de nov. de 2012
Uma Monumental e Misteriosa Caixa de Joias: A Sala de Âmbar
Tsarskoye Selo State Museum
Inaugurada em 2003 no 300º aniversário da
cidade de S. Petersburgo e uma das maravilhas da cultura russa e mundiais, a
atual Sala de Âmbar é o resultado fascinante do trabalho e da genialidade de 70
artesãos que,durante 25 anos e a partir de fotografias antigas, conseguiram
reconstituir a Sala de Âmbar original, cujos painéis de âmbar* e outros objetos
valiosos desapareceram do palácio Ekatarininsky, também conhecido como o "Palácio de Catarina",
nos caóticos meses finais da Segunda Guerra Mundial, para jamais serem
recuperados inteiramente.
A Sala de Âmbar original era uma das
obras-primas do século XVIII. Em 1716 o
rei da Prússia Frederico Guilherme I presenteou o czar Pedro, o Grande com 22
painéis para decorar uma sala de um dos palácios do monarca russo, em
celebração ao Tratado de Paz assinado entre Prússia e Rússia. Os painéis foram
feitos por um mosaico de mais de 100.000 peças esculpidas em âmbar. Dentre
estas, encontravam-se elaborados brasões
de armas, monogramas, paisagens e também cenas mitológicas. A Sala de Âmbar foi
inaugurada em 1755, após um elaborado trabalho conduzido pelo arquiteto
italiano Bartolomeo Rastrelli, responsável também pelas magnífica fachada em
estuque azul, branco e dourado ( cerca de 100 kg de ouro foram utilizados para
dourar entalhes nas paredes e também as várias estátuas erguidas no telhado) do
palácio Ekatarininsky, palácio em estilo barroco localizado na cidade de Pushkin ( então e ainda hoje conhecida como
“Tsarskoye Selo”, que significa Cidade do Czar), a 25 quilômetros de São
Petersburgo.
Durante quase 150 anos a Sala de Âmbar (
com 150 metros quadrados) serviu como suntuosa sala de representação dos czares
e czarinas, iluminada por 565 velas que a faziam brilhar como ouro. A magnífica
Sala serviu como sala de meditação privada para a czarina Elizabeth (filha de Pedro, o Grande), como local
para encontros do seu círculo íntimo para a czarina Catarina, a Grande e escritório predileto
para o czar Alexandre II. Conhecida como a “sala que brilha para fora”, era sem
dúvida a mais famosa sala à leste de Versailles.
Tsarskoye Selo State Museum
Tsarskoye Selo State Museum
O mistério sobre o paradeiro dos painéis e
objetos roubados da Sala de Âmbar original está diretamente relacionado com a
política nazista de Adolf Hitler para a então União Soviética (agora novamente
Rússia) que era a de, não só roubar sistemáticamente milhares de pinturas,
joias, ícones e outros tesouros, mas principalmente destruir sua cultura. E a
Sala de Âmbar era mais do que somente um troféu roubado, era a peça central do
plano nazista.
Em 22 de junho de 1941 Adolf Hitler inicia a
Operação Barbarossa, enviando 4,5 milhões de soldados
numa frente de 2.900 km através das fronteiras da União Soviética. Em 8
de setembro do mesmo ano a cidade de Leningrado ( antes São Petersburgo) estava
fortemente cercada pelo Exército do Norte ( para a Operação foram determinados
três grupos de exércitos: Norte, Centro e Sul), cada um liderado por generais
da confiança de Hitler. Em Pushkin, que já via cair suas defesas, autoridades
reuniram mulheres e crianças em uma frenética, desesperada e falida tentativa
para empacotar centenas de objetos da era czarista e transportar para as
Montanhas Urais. Mas, em relação ao que aconteceu com a Sala de Âmbar, ninguém
até hoje sabe explicar o porquê: em vez de desmontar os preciosos painéis, o
curador Anatoly Kuchumov preferiu
disfarçá-los sobre camadas de folhas de papel pintadas, gaze e algodão. Assim,
quando caíram as defesas soviéticas, tudos os objetos e painéis da suntuosa
Sala ficaram sob o controle de Alfred Rosenberg, um dos chefes e ideólogos do
Partido Nazista alemão.
Para Rosenberg, cuja missão era a de
purificar e exaltar a cultura germânica, o conteúdo da Sala Âmbar era decisivo
como fator argumentativo de que a cultura germânica era superior a todas as
outras, no caso não interessando que a sala foi instalada e embelezada pelo
italiano Rastrelli e que, dos seus
mestres-artesãos, um era francês e o outro, dinamarquês. Para Hitler
e seu círculo, o presente do rei prussiano Frederico Guilherme
representava a maestria dos artesãos alemães. Em novembro de 1941 todas as
milhares de peças que formavam a decoração da Sala já estavam catalogadas e
numeradas e, durante 36 horas, seis homens trabalharam para desmontar e
encaixotar todo seu o conteúdo. Os preciosos painéis que tinham chegado da
Prússia há quase 200 anos agora voltavam à Alemanha em um veículo militar. A
Operação Barbarossa, a maior operação militar da História em termos de número
forças militares envolvidas e de mortes,
foi um fracasso para Hitler, mas não a subtração de um dos maiores tesouros da
Rússia, que foi um sucesso.
Na Alemanha nazista, os painéis e todos os
objetos foram instalados no castelo-museu de
Königsberg, cidade alemã na costa do Mar Báltico e desde então sua
apresentação se tornou um sucesso de público. O diretor do museu, Alfred Rohde,
era um estudioso do âmbar e era conhecido por ficar horas admirando os painéis
e objetos roubados do palácio Ekatarininsky. Uma das “justificativas” para o
conteúdo da Sala estar na Alemanha era de que o antigo palácio de Catarina
tinha sido devastado pela guerra. Mas em 1943,
Rohde foi obrigado a desmontar os painéis e encaixotá-los: agora era a
vez da Alemanha ser invadida. Bombardeiros aliados bombardearam a cidade em
agosto, e o castelo-museu não foi polpado. Pela correspondência deixada pelo
curador do devastado museu, sabe-se que os painéis e objetos da Sala de Âmbar
sobreviveram ao ataque aliado. Mas pouco se sabe sobre eles além disso. Quando
o exército soviético chegou à Königsberg, Alfred Rohde e sua esposa decidiram
ficar na cidade. Interrogados durante dias pela KGB, jamais disseram onde o
tesouro de âmbar estava escondido. Passados alguns dias, as autoridades
soviéticas foram informadas de que o casal havia morrido de tifo, epidemia que
grassava pela cidade. Começava então o mistério do paradeiro das peças da Sala
de Âmbar : os corpos do casal dado como morto haviam sumido, assim como o
médico que havia assinado o certificado de óbito.
Durante os anos que se seguiram ao
bombardeio de Königsberg, várias teorias
para o desaparecimento dos objetos e painéis da Sala de Âmbar surgiram: Stalin
teria a posse dos objetos verdadeiros, enquanto que os alemães roubaram objetos
falsos; as peças foram enterradas em uma mina de sal pela Gestapo, que depois
matou os soldados envolvidos na operação e selou o local; as caixas com as
milhares de peças foram descobertas e vendidas aos soldados americanos; um
grupo pouco provável formado por negociantes de arte, ex-nazistas e
ex-militares soviéticos estaria de posse do tesouro; e ex-oficiais nazistas que
fugiram para o Brasil teriam dito que as caixas estavam escondidas em uma mina
de prata perto de Berlim.
Para aumentar a sensação do mistério da
Sala de Âmbar, algumas peças ressurgiram em anos recentes: em 1997, uma
operação policial na cidade alemã de Bremen encontrou quase a totalidade das
peças de um dos quatro painéis em mosaico florentino da Sala original. Os painéis,
decorados com ônix, ágata, opala e lápis-lazuli foram presenteados pela
imperatriz Maria Teresa da Áustria ao trono russo e simbolizavam, em sua
intrincada decoração, os Cinco Sentidos. As peças que estavam sendo vendidas
por um homem, filho de um soldado da Wermacht (exército alemão) da Segunda
Guerra Mundial, e que foram autenticadas como verdadeiras, faziam parte do
painel que combinava as alegorias do Tato e do Olfato. E em 2010, um caçador de
tesouros russo descobriu um bunker do alto comando alemão da Segunda Guerra em Kaliningrado, onde ele
acredita que está enterrado o tesouro da Sala de Âmbar.
Tsarskoye Selo State Museum
Tsarskoye Selo State Museum
*Âmbar – Gema orgânica ( gemas orgânicas podem
ser de origem animal ou vegetal) que é composta dos restos da resina de
pinheiros pré- históricos do Período Oligoceno, 30 milhões de anos atrás. Seus
maiores depósitos encontram-se nas regiões do Mar Báltico e são grandes
produtores mundiais de âmbar a Rússia, a Polônia e a Lituânia.
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