Foto Reuters
Nascida em um gueto judeu moscovita da Rússia de 1819, Esther Lachman, dita Thérèse Lachman, ascendeu socialmente na França de Napoleão III como cortesã. Época chamada de Período Dourado pelos que a vivenciaram, a Europa sem guerras a partir de 1815 viu chegar uma era de prosperidade, tanto na economia e na ciência quanto nas diversas formas de artes. Tal prosperidade não era mais somente um privilégio da classe nobre, mas se estendeu também às novas fortunas surgidas com a Revolução Industrial e que usavam as extravagâncias do luxo como forma de demonstrar poder.
Contemporânea de outra famosa cortesã, Alphonsine Duplessis, imortalizada por Dumas como a Dama das Camélias, era tida como de uma beleza exótica (cabelos negros emoldurando um rosto de traços mongóis), esperta, incrivelmente ambiciosa e sem escrúpulos e foi em Paris que Thérèse desenvolveu sua paixão pelo luxo e por jóias. Casada aos 17 anos com um peleteiro de nome Antoine Villoing, com ele teve um filho, mas logo se cansou da vida simples de mulher de um pequeno comerciante de peles e os abandonou para viver e trabalhar em um bordel de luxo no Marais que tinha como clientes, dentre outros artistas, ricos comerciantes e nobres, o compositor Richard Wagner.
Em três anos, Thérèse já possuía vários vestidos luxuosos, algumas jóias e peles, dadas de presente pelo seu amante mais apaixonado, o inglês Lord Stanley. Com a morte do primeiro marido, passou a procurar um segundo e o encontrou na pessoa do marquês português Albino Francisco de Paiva Araújo, que não imaginava exatamente o movimentado passado amoroso da agora marquesa de Paiva, ou La Paiva, como Thérèse passou a ser conhecida na sociedade. Frustrado e com vergonha ao saber de detalhes do passado da esposa suicidou-se com um tiro em 1872.
Era então hora de partir para o terceiro marido e La Paiva casou-se então com o conde prussiano Guido Henkel Von Donnersmarck, imensamente rico, de família da alta nobreza e amigo do imperador alemão, além de 11 anos mais moço. Como condessa, apesar da sociedade parisiense jamais ter cruzado os umbrais dos belíssimos portões da mansão do conde na Avenida Champs Elysée, Thérèse finalmente atingiu o patamar máximo da sua ambição e passou a desfrutar de todos os luxos ainda não desfrutados.
Tornou-se uma das mais assíduas clientes da Maison Boucheron e entre 1878 e 1883 fez exatamente 30 visitas, nas quais adquiria gemas que depois entregava a própria Maison para que fosse feitas jóias de acordo com seu gosto, ou então comprava várias peças prontas de uma só vez. Uma de suas mais memoráveis aquisições aconteceu em 1882, quando comprou por 157.000 francos (em valores da época) pérolas, esmeraldas, rubis e safiras, para no dia seguinte voltar à Boucheron e encomendar a montagem de várias jóias, dentre as quais um bracelete decorado com três grandes esmeraldas, uma rivière contendo 12 diamantes e 13 rubis e outra contendo 15 diamantes lapidados em brilhante e 15 esmeraldas em lapidação esmeralda, esta última levada à leilão na Christie`s de Genebra, Suíça, em 15 de novembro de 2007, e arrematada por 1.900.000,00 Euros.
La Paiva morreu em 1884, aos 64 anos, no castelo de seu marido, em Neudeck, Alemanha. Em 1887, o conde casa-se novamente, desta vez com uma jovem aristocrata russa, Katharina Slepzow, a quem oferta a maior parte das jóias pertencentes à primeira esposa. Surpreendente enquanto viva, Thérèse não deixou de surpreender também depois de morta: seu corpo, embalsamado numa solução alcoólica dentro de um enorme jarro de vidro, foi descoberto pela segunda esposa do Conde Von Donnersmarck num quarto que permanecia há anos fechado à chave, dentro do castelo. Conta-se que o conde ficava trancado por horas dentro do quarto, chorando a morte da primeira esposa.
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