18 de fev. de 2008

Marie Antoinette ( Maria Antonieta) e o Caso do Colar de Diamantes

Maria Antonieta retratada por Vigée LeBrun



Colar de Diamantes




A paixão por jóias (principalmente adornadas com diamantes e pérolas) da rainha da França Maria Antonieta, nascida arquiduquesa austríaca é bem conhecida. Com um gosto bastante diferente das suas duas últimas antecessoras no trono francês - a polonesa Maria Leckzinska e a espanhola Maria Teresa da Áustria, várias jóias pertencentes à Coroa Real da França tiveram que ser modificadas para ela durante seu reinado.

Em maio de 1770, quando a jovem austríaca de 14 anos chegou à França, trouxe na sua enorme e luxuosa bagagem um anel magnífico contendo como única gema um diamante azul-acinzentado em forma de coração pesando 5,46 quilates. O anel pertencia à coleção particular de Maria Antonieta e, somente em 1791, após seu aprisionamento pelos membros da Revolução, passou a ser guardado no Garde Meuble (edificação situada na Place de La Concorde, em Paris e onde era depositado todo o acervo da Coroa francesa).

Por volta de 1780 foram intensificados os boatos maldosos contra Maria Antonieta, acusando-a de dissipação, vícios sexuais e extravagância. Por ser estrangeira e austríaca – os Habsburgos austríacos detinham enorme poder na Europa de então e tinham sido por séculos inimigos da casa reinante francesa - os franceses, principalmente os que eram já a favor de um regime diferente de governo que não o do Absolutismo, sempre tentaram difamar a rainha através de panfletos obscenos e folhetins vendidos e distribuídos pelas ruas da cidade de Paris. A inclinação de Maria Antonieta pelo luxo (era amante das artes e favoreceu, com seu patrocínio, as porcelanas feitas na cidade de Sévres, pintores, músicos e atores), pelos penteados extravagantes e vestidos caros, além do favoritismo por um grupo seleto de amigos e por uma total inadequação à política, não contribuiu em nada para que os boatos diminuíssem.

O que ficou conhecido como “O Caso do Colar de Diamantes” e desgastou enormemente a imagem de Maria Antonieta perante seus súditos, criou-se a partir de pessoas com situações totalmente díspares: a ambiciosa Madame de Lamotte - empobrecida Valois descendente longínqua de antigos reis franceses querendo uma posição na corte de Versalhes, o pervertido, rico e perigoso príncipe De Rohan – Cardeal da França por quem a rainha nutria uma enorme antipatia e desconfiança, e o desesperado joalheiro Boehmer - que tinha em mãos um fabuloso e caríssimo colar de diamante originalmente confeccionado para que Luís XV, avô e antecessor de Luís XVI, marido de Maria Antonieta, desse como um presente a sua última amante, Madame Du Barry.

Sem ter acesso direto à rainha, mas usando de sua boa aparência e uma grande dose de charme, Madame de Lamotte conseguiu atrair a atenção do cardeal e do joalheiro, convencendo-os de que tinha uma relação estreita com Maria Antonieta e que esta queria comprar o colar. Imensamente desejoso de voltar a fazer parte do círculo íntimo de cortesãos à volta de Maria Antonieta, o cardeal deixou-se convencer e pegou o colar com o joalheiro, convencendo Boehmer de que ele, cardeal, faria com que a rainha comprasse o colar.

Usando uma prostituta que lembrava Maria Antonieta, Madame de Lamotte marcou vários encontros entre o cardeal e a falsa rainha à noite, nos jardins perto do Templo do Amor em Versalhes, onde corriam boatos de que a verdadeira rainha se encontrava ali com amantes. Nesses encontros, o cardeal foi iludido de que seria recebido por Maria Antonieta novamente em seu círculo íntimo e assim, deu para a intrigante Madame o colar, para que esta o fizesse chegar discretamente às mãos da rainha.

Quando o joalheiro Boehmer visitou a rainha e solicitou que o colar lhe fosse pago, a confusão instalou-se. Luís XVI e Maria Antonieta ficaram a par de todos os detalhes, e o desagrado de Maria Antonieta quanto ao cardeal transformou-se em ódio. O rei apoiou a esposa mandando prender o cardeal - ocupante do mais alto posto católico na França - em público, em frente de toda a corte de Versalhes. Além do vexame da prisão, a rainha queria vingança e o cardeal foi então submetido a um julgamento pelo Parlamento de Paris.

O julgamento foi uma sensação durante meses e muita roupa suja da corte de Versalhes foi lavada em público. O resultado foi um desastre para a rainha e contaria muitos anos depois como mais uma prova contra ela, quando do seu “julgamento” pelos membros revolucionários da Convenção Nacional.

No final, os nobres que compunham o Parlamento francês inocentaram o poderoso cardeal De Rohan de qualquer insulto premeditado à rainha e, ainda pior, fizeram constar em ata que, dada à má reputação de Maria Antonieta - desde muitos anos que a rainha era vítima dos famosos libelos, o equivalente em nossos dias aos tablóides; estes circulavam livremente por Paris e cidades francesas importantes e eram lidos por representantes de várias classes sociais - ela era merecedora de que o cardeal tivesse sido levado a crer que receberia favores amorosos em troca de um colar de diamantes.

Mas condenaram Madame de Lamotte à prisão e a marcaram a ferro com o V (voleur) de ladra. Porém, um tempo depois, ela consegue escapar da prisão e se refugia na Inglaterra. De lá, faz circular milhares de folhetins onde conta falsamente que era amante da rainha e que tudo não passou de um grande divertimento para Maria Antonieta, e que esta teria ficado com o colar de diamantes, o que é absolutamente falso.

Em outubro de 1793, pouco tempo antes da sua execução, Maria Antonieta deu o magnífico anel com o diamante azul-acinzentado à princesa Lubomirska, uma de suas amigas mais íntimas. Com a morte da princesa anos depois, a sua imensa fortuna e jóias foram divididas entre quatro filhas, três das quais casadas com membros de uma família aristocrata polonesa, os Potocki.

Em 1955, o anel pode ser apreciado pelo público em Versalhes por ocasião da exibição “Maria Antonieta, Arquiduquesa, Delfina e Rainha”. Em 1983, a casa de leilões Christie’s colocou o anel à venda.

Na década de 1950-60 muitos joalheiros e negociantes de gemas norte-americanos foram para a Europa comprar jóias antigas pertencentes a famílias que tinham perdido tudo durante a Segunda Guerra Mundial. Van Cleef, Cartier e Harry Winston estavam entre eles. Mas somente as gemas os interessavam, já que o design das jóias tinha se modernizado e ninguém mais se interessava pelos estilos antigos. As gemas, principalmente diamantes, rubis e safiras, foram retiradas das antigas peças e enviadas para serem lapidadas em novas formas, porém algumas peças de joalheria compradas por Harry Winston foram vendidas como estavam para clientes colecionadores de jóias antigas, como Marjorie Merriweather Post que, mais tarde, doou um substancial número delas para o Museu Smithsonian, situado em Washington, EUA. Dentre as jóias doadas, estava um par de brincos em diamantes pertencentes à Maria Antonieta.

Personagem da História com perfil antipático, considerada merecedora da morte na guilhotina durante os últimos séculos, Maria Antonieta começou a ter sua biografia revista no início do século XXI.

Criada em uma corte católica e tendo como mãe a imperial - em todos os sentidos - Maria Tereza da Áustria, teve o seu casamento com o Delfim francês Luís Augusto (mais tarde Luís XVI) acordado entre França e Áustria como um movimento importante no sentido de promover um relaxamento das tensões entre os dois países, que se enfrentaram na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e que pelos dois séculos seguintes continuaram a ser antagonistas.

Maria Antonieta desde o início foi odiada pelos cortesãos de Versalhes, e não soube se posicionar politicamente (sua imperial mãe a queria como defensora dos interesses austríacos na França e os franceses a queriam longe da esfera do poder de então), preferindo - talvez por ser parte de sua personalidade, mas também e certamente tendo suas ações motivadas pela não consumação do seu casamento por longos sete anos (período em que enfrentou pressões dos dois países para que gerasse um herdeiro ao trono da França, quando na verdade só lhe cabia “metade da culpa” pelo fracasso matrimonial que sofria) e pela ausência total das amigas de infância austríacas, mandadas de volta assim que a arquiduquesa pisou pela primeira vez em solo francês - uma vida onde os vestidos, sapatos, penteados e as frivolidades da Corte francesa tinham preponderância.
Quando se tornou mãe (quatro filhos, dois mortos em tenra idade), passou a se mostrar mais amadurecida e preocupada com o que ocorria a sua volta. Infelizmente, não conseguiu reverter a imagem negativa que detinha perante a Corte e principalmente o povo, martirizado por invernos rigorosos e conseqüentes colheitas muito fracas, mas principalmente vítima do enorme déficit criado pelo apoio financeiro francês à guerra por independência das colônias inglesas contra a Inglaterra e que culminaram com o surgimento dos Estados Unidos da América do Norte.
Com um marido fraco e sem o perfil para ser rei de um país como a França de então, a rainha foi aprisionada juntamente com sua família, primeiro no palácio das Tulherias, depois no antigo palácio do Templo e finalmente na Conciergerie, de onde saiu aos 38 anos de idade para a guilhotina.

Usada durante todo seu processo como bode expiatório pelos agentes da Revolução Francesa teve, contudo, uma conduta digna em todos os momentos em que passou presa e inclusive no seu “julgamento” (já estava previamente condenada). Morreu completamente entristecida pela morte do marido (a quem não amava, mas respeitava) e, mais ainda, pelo fato de seu único filho homem sobrevivente, o Delfim Luís, lhe ter sido tirado das mãos quando ainda na prisão no Templo e ter servido de peça acusatória contra a própria mãe, acusando-a de incesto, o que jamais ocorreu e que a devastou.

Maria Antonieta passou seus últimos dias em situação de profunda e miserável humilhação, mas na hora de sua morte enfrentou o final da vida com coragem e serenidade, porque o que mais lhe dizia ao coração ela já havia perdido totalmente: o convívio com a sua pequena família e, principalmente, sua proximidade com os dois filhos, Maria Tereza e Luís.

7 comentários:

Richard Harrison disse...

Julieta como sempre adorei ler esse seu artigo mais recente. Eu estudei sobre a Maria Antoinette na minha escola muitos anos atras e sempre me e interessante ler historias sobre ela. Claro que voce pesquisa e escreve tao bem entao o meu interesse aumenta ainda mais. Adoro acompanhar o seu site.
Richard

Léon disse...

Parabéns pelo artigo!
Gostei muito do seu estilo e sensiblidade, além do profundo conhecimento de história.

Anônimo disse...

Excelente artigo!!
Parabéns
Bianca

Rico E disse...

Amo Maria Antonieta.
Aliás já escrevi sobre a mesma: http://mitodepandora.blogspot.com/2008/08/rainha-da-moda_23.html
Quando puder apareça!
Um abraço,
Rico E

Richard Harrison disse...

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Yours always

Richard

Richard Harrison disse...

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Richard

Unknown disse...

Bom, me ajudou no trabalho de história